Ser penedo é ser por fora o que se é por dentro (Teixeira de Pascoaes)
... é como ser transparente.

7 de dezembro de 2018

José Manuel Ramos Penafort Campos (1949 / 1987)




Álbum de Gratidão
Entre os que foram e os que estão, invocando as suas acções positivas a favor da comunidade, aquela a que pertencemos e para a qual os aqui chamados são ou foram exemplo.                           6.12.2018

Tertúia com jantar
José Manuel Ramos Penafort Campos
(1949 / 1987)
Após uns anos de afastamento, pós acontecimentos de 74 até 76, reencontramo-nos num acaso; daqueles que a vida nos oferece, envolto no mistério que essa palavra “acaso” traz consigo (o poeta disse que não os há, mas antes encontros).
Dizia eu que, esse fulminante reencontro, no ano de 1986, nos trouxe, à Fernanda e a mim, a alegria renovada pela retoma de relações por quem nos sentíamos próximos: a Joana e o Zé Manel Penafort.
Recordo-me bem da última refeição que tomamos juntos na vossa casa: bacalhau assado, por ele, na lareira da casa.
Falamos de muita coisa, mas não no passado, que queríamos ambos não esquecer, mas deixar para mais tarde, quando o saber que o tempo traz, nos alumiasse melhor a memória.
O tempo não apaga. O tempo tapa, até que vem uma brisa e destapa.
E acertamos um reencontro em lugar afastado. Onde?
Em Viena de Áustria, caso o nosso F.C.Porto chegasse à final europeia, conforme esperávamos.
Aproximava-se a data e o Porto somou as vitórias necessárias para chegar ao Pratter , em Maio de 1987.
Pelo telefone, eu de Bruxelas, ele no Porto,  acertamos a coisa: encontramo-nos lá e tu arranjas os bilhetes para 9, que eram os que iriam de Bruxelas para Viena em carros próprios, ficando uns dias mais para visitar a cidade.
A data mais perto, 27 de Maio, tudo acertado, iria receber pelo correio os prometidos bilhetes.
E surge o fatídico dia 19 de Maio. Um pesaroso telefonema da nossa Joana e uma bomba rebenta nos nossos ouvidos e transmite-se ao corpo, aos meus, à casa.
Passaram-se uns dias, poucos, a vida impassível no seu curso, e a realidade era lembrada pelos amigos que se juntariam a nós em Viena: 7, distantes do acontecido, mas respeitosamente silenciosos face ao ambiente pressentido, sabendo nós que a viagem estava programada, hotéis reservados.
Teria sido entre 21 e 23, uma carta, bem volumosa, chega-me às mãos no serviço. Reconheci a letra, 9 bilhetes ali estavam capeados por um papel manuscrito onde se podia ler:
“Até os comemos!
Vemo-nos em Viena!”
Em Viena nada foi velório, tudo foi, quase, contagiosamente festivo.
Ele queria-o, e acho mesmo que o vi, do outro lado do estádio, a esbracejar e a gritar:
“Comemo-los!”

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