Ser penedo é ser por fora o que se é por dentro (Teixeira de Pascoaes)
... é como ser transparente.

7 de julho de 2013

O Pesadelo, de Antonio Quadros, apresentação

Exmo Senhor Presidente da Academia das Ciências de Lisboa, Prof. Doutor Luís António Aires Barros
Exma. Senhora Dra. Mafalda Ferro, Presidente da Fundação António Quadros
Prof. Dr. Carlos Duarte, Presidente do IADE,
Prof. Dr. Fernando Carvalho Rodrigues,
Caros amigos aqui presentes,
1.
É na crença profunda de que o que fazemos é proveitoso que aqui estamos. Assumimos o nosso ofício, fugindo aos relativismos desalentadores, com abnegação e devoção.
Nisi utile est quod facimus stulta est gloria (é a divisa desta casa), isto é, se não for útil o que fizermos, a glória será vã
Há mais de 27 anos que a Orfeu vende livros portugueses, organiza actividades de todo o tipo cultural, edita variados escritos em diversos domínios, apoia estudos e contactos, serve de ponto de encontro onde elevação e abertura são modus operandi.
A abelha atarefada não tem tempo para a tristeza, e assim temos estado e assim estamos hoje aqui e esperamos continuar.

2.
O que do passado interessa é o que transcende o tempo, os princípios, os arcanos, os arquétipos, isto é, o que permanece idêntico sobre as roupagens da duração (AQ), disse o Mestre que hoje se homenageia.
E é na tentativa de propor obra durável e influente, ainda que em diminuta dimensão, que hoje aqui nos reunimos.
Partimos de um conto, passamos pela sua interpretação artística e chegámos a um livro.
Com a mestria ficcional de António Quadros e Armando Villas-Boas, a coordenar as audácias visuais de Adriana Fonseca, Catarina Sarmento, Diogo Cardoso, Mariana Leal Rato, Raquel Koch e Sara Lourido, obtivemos um objecto interventivo e estético que muito gostamos e os orgulha enquanto editores.
Com IADE, dirigido pelo Prof Carlos Duarte, e a Fundação António Quadros, presidida pela Dra. Mafalda Ferro, fizemos parceria desde o início. A EDP deu um jeitinho. O Prof. Carvalho Rodrigues foi o pivot, função em que é perito, com um olho no cosmos e outro no seu cortelho de Casal de Cinza (onde passa o meridiano da Terra), pois nunca lhe aconteceu como a Tales de Mileto, que olhando os astros, caiu a um poço.
Um obrigado sentido a todos.

3.
Por último, o meu vivido preito a António Quadros, mestre de portuguesismo infalível e esperançoso.
O divulgador e militante tenaz do pensamento português, criacionista e regeneracionista, aquele que (segundo o disse) é marginalizado ou ocultado pela superestrutura dominante, oficial ou oficiosa.
Citando Fernando Pessoa, em 1989, na homenagem realizada em Bruxelas, disse-nos o filósofo e poeta:
Também há universo na rua dos Douradores. Também aqui Deus concede que não falte o enigma de viver, mas algures sem dúvida é que os poentes são. Mas até deste quarto andar sobre a cidade se pode pensar no infinito. Um infinito com armazéns em baixo, é certo, mas com estrelas ao fim.
António Quadros não desesperou, e todo o lamento que literária e filosoficamente lhe conheci, tinham momento e escape. Da mais esconsa e obscura viela se vê o estelar, e pensou-o e praticou-o.
E que se, como alguém disse a propósito dos momentos que passamos: a luz ao fundo do túnel vai também ser desligada como medida de poupança, a obra a pessoa de António Quadros são a energia e a motivação para crermos e querermos. No breu será a lanterna.
Passa por ele – mestre saudoso – e por alguns mais, dos renascentistas, órficos, presencistas, dos de 57 e da Filosofia Portuguesa, a regeneração necessária à pátria sofredora.
Com António Quadros, vamos em frente!
Muito obrigado.
Academia das Ciências de Lisboa, 21 de Março de 2013
Joaquim Pinto da Silva




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