Ser penedo é ser por fora o que se é por dentro (Teixeira de Pascoaes)
... é como ser transparente.

6 de maio de 2013

Porto de Abrigo / Port(o) de refuge


sobre uma exposição de fotografia de Joaquim Silva Rodrigues


Porto de abrigo

Cidade importante da Gallaecia histórica e esteio fundamental da nação em construção, o Porto criou-se como que a si mesmo, pelo talento dos seus mesteirais, a perspicácia dos seus negociantes, a afeição à urbe e às suas prerrogativas e um provado apego à liberdade, que lhe permitiu, por exemplo, a ousadia de, durante quase três séculos, impedir à nobreza a estadia por mais de 3 noites e de entrar armada intra-muros e ainda de receber em herança um coração de rei reconhecido, ainda hoje conservado.
É muito mais espelho que capital de uma região Norte diversa, com a qual se identifica e de que depende, do viçoso e alegre Minho, aos planaltos e montanhas do Trás-os-Montes agreste e genuíno. É ainda o desfecho, apoteótico por sinal, de um rio Douro que, desde Urbión (Soria) vem de escantilhão entre ravinas, a esmigalhar pedra e terra, a aleitar famosas vinhas, e de peito aberto se lança ao Atlântico, em barra tão importante quanto trágica.
É ainda por isso que tripeiro (alcunha antiga dos seus habitantes) “se articula rijamente” com três pês (parafraseando o escritor Ramalho Ortigão): o da própria palavra, o de Porto e o de Portugal.
E desta nossa cidade, o Joaquim Silva Rodrigues, traz-nos um perfume, em jeito de convite, com imagens variadas cujo fio condutor é o tal aferro, a tal maneira própria que, talvez por ser obstinada na sua identidade, é acolhedora e generosa para com quem a visita.


Port(o) de refuge

Ville importante de la Gallaecia historique et pilier de la nation en construction, la ville de Porto naquit comme de par elle-même, grâce au talent de ses maîtres artisans, de la perspicacité de ses marchands, de son penchant pour la ville et ses atouts, ainsi qu'à un attachement flagrant à la liberté, qui lui valut, entre autres, l'audace d'interdire à la noblesse, pendant presque trois siècles, de séjourner dans la ville plus de 3 nuits, ainsi que d'y pénétrer armée. Cela lui valut également de recevoir en héritage un cœur de roi reconnaissant, qui reste conservé encore aujourd'hui.
Bien plus que la capitale d'une région Nord diverse, à laquelle elle s'identifie et dont elle dépend, la ville de Porto est plutôt le reflet du luxuriant et joyeux Minho, rural et authentique, avec les plateaux et les montagnes de Trás-os-Montes. Elle est aussi l'apothéose d'un fleuve Douro qui, dès Urbión (Soria) se précipite de ravin en ravin, émiette terre et pierres, allaite de fameux vignobles et se jette à bras-le-corps dans l'Atlantique, par son estuaire aussi important que tragique. C'est pour cela aussi que le mot "tripeiro" (ancien surnom de ses habitants) est fortement articulé autour de 3 "P" (en paraphrasant l'écrivain Ramalho Ortigão): celui du mot en lui-même, celui de Porto et celui du Portugal.
Joaquim Silva Rodrigues nous apporte un parfum de cette ville, en guise d'invitation, avec des images variées dont le fil conducteur est cette pugnacité, cette façon d'être qui, peut-être à force d'opiniâtreté, est accueillante et généreuse envers ceux qui la visitent.
(trad; Rosalina Bernon)

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