Ser penedo é ser por fora o que se é por dentro (Teixeira de Pascoaes)
... é como ser transparente.

15 de janeiro de 2013

João Carvalho, um adeus



(in: blog Delito de Opinião, 14 de Janeiro de 2013 às 23:05)

A alvura glacial do bosque - que viste -, nesta invernia que fizeste entrar em casa e no meu corpo, não é nova para mim, desafortunadamente, mas é tremente e temente, como que a lembrar-nos a condição fortuita, anátema acompanhante desde o ventre da Mãe e paulatinamente ciente desde os alvores de eros.
Por entre a nuvenzinha do teu cigarro, a tua face, sempre esperta e humorada, acompanhava à perfeição a seda chinesa do teu roupão discreto de tons mas exuberante de flora. Respondias com carinho às invectivas ternas da Fernanda a propósito. Vejo-te ainda nesta janela-porta por onde diferencio com angústia a noite caindo. Foi uma visita curta na longa amizade frequentada de ausências e silêncios. O tal travo do podia ter sido ou feito sinto-o a arranhar nas aortas. Nada adianta quando tudo se atrasa, paradoxo infalível e inevitável. Como este passo que deste, involuntário e indesejado, mas dado. Um dado lançado com o primeiro choro. Um choro que é dos teus (a Mãe, a Xanda e a Eduarda e a Maria João, queridas amigas) e que é nosso.

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(in: minha pagina do Facebook, 14.1.2013)

Ao João Carvalho,
De humor e atitude fina, palavra pensada e escrita clara, este companheiro de andanças cívicas, nomeadamente n’O Progresso da Foz e na Fondation Europe of Cultures, deixou-nos, hoje.
Rapidamente, em jeito de homenagem imediata, colhi no blogue Delito de Opinião (em Pontos nos is) um seu texto que o identificasse. Outros haverá, mas o escolhido parece-me reflectir bem o seu pensar e agir: a análise lúcida e fria capaz de desmontar as parangonas partidárias e separar a verdade do odioso oportunismo político que a manipula. Em política há “verdades” que só o são na devida altura, aquelas ligadas ao carácter e à honra.
João sabia-o, João praticou-o!
Saudades.
QZ

I
Pontos nos is (18)
por João Carvalho, in Blog
TROMBONE

«O ministro-adjunto do primeiro-ministro decidiu processar a antiga bastonária da Ordem dos Arquitectos, Helena Roseta, na sequência das declarações da ex-bastonária à SIC, a 23 de Junho, segundo as quais Relvas teria sugerido a contratação da empresa onde então trabalhava Passos Coelho para desenvolver um conjunto de acções de formação para a área autárquica, que Relvas tutelava, enquanto secretário de Estado da Administração Local do governo de Durão Barroso.»

Não sei se Miguel Relvas irá mesmo processar Helena Roseta. É até possível que o tempo decorrido torne inviável a abertura de um processo-crime, se calhar já prescrito. No entanto, se o ministro se considera ofendido e decidir queixar-se, não está apenas no seu direito como está em tempo útil, porque foi agora que Helena Roseta (bem ou mal, é o que falta saber) o atingiu.

Esperemos para ver. Não importa o timing: só se é ofendido depois de uma ofensa.

II
Já no que respeita a Helena Roseta, o tempo útil parece interessar pouco. Segundo ela, Miguel Relvas teria assumido uma atitude inaceitável em 2003. Vai daí, conta a sua história publicamente em 2012. A noção de timing da ex-bastonária da Ordem dos Arquitectos é, no mínimo, estranha. Mas não é só a noção de timing: o que ela diz ser inaceitável não foi o bastante para a fazer abrir a boca na altura certa; mas agora, nove anos depois do suposto episódio, quando o caso só serve para denegrir o adversário, já Helena Roseta acha bem vir a público pôr a boca no trombone.
Convenhamos que o critério de Helena Roseta é, pelo menos, pouco razoável. Pouco ou nada, porque não é critério: é falta dele.

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(in: Facebook, pagina de O Progresso da Foz, 14.1.2013)

João Carvalho
Foi um indefectível artífice dos melhores tempos de O Progresso da Foz (comparáveis aos do também saudoso José Augusto de Castro). Nesses anos de meados de 80 até inícios de 90 a Foz (Foz do Douro e Nevogilde) teve no nosso jornal o único instrumento (o único mesmo) de vigilância e crítica cívica (política, se quiserem) às suas autarquias e, de certa forma, à da cidade (considerando de colaboracionistas com os desmandos apontados nas suas páginas, as assembleias de freguesia e municipais incapazes de informar o cidadão, fora dos tempos “oportunos” das eleições… tal e qual como agora).
Imparcial e estritamente apartidário, o grupo de o Progresso teve em João Carvalho um executante-mor dos princípios de O Progresso da Foz, na promoção cultural e cívica dos seus membros e dos seus leitores, na defesa da região e do país.
Inconfundível de modo e de pena, sereno, de trato elegante e sociável, o João deixa-nos.
Saudades de todos de O Progresso da Foz.






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