Ser penedo é ser por fora o que se é por dentro (Teixeira de Pascoaes)
... é como ser transparente.

26 de junho de 2012

Filipe Menezes, o Grande Porto e as suas travessias e travessuras

Para o Carlos Romão,
na estima e admiração pelo seu contributo à defesa do Porto, do Norte e do país através de:
A Cidade Surpreendente: http://cidadesurpreendente.blogspot.be/
e
A Cidade Deprimente: http://outra-face.blogspot.be/

Filipe Menezes, o Grande Porto e as suas travessias e travessuras

Antes de abordar o assunto com a profundidade que ele merece, mas pela urgência de ouvir-se vozes diferentes, gostaria desde já de dar a minha opinião aos cidadãos do Porto/Gaia/Matosinhos sobre duas coisas que Filipe Menezes disse acerca do futuro do Grande Porto.

A primeira e a mais importante: a fusão de Gaia Porto e, eventualmente Matosinhos (e porque não, Gondomar), não deve fazer-se para sermos maiores que Lisboa e a primeira cidade do país. O ser primeiro ou maior não devia entrar na política de progresso e solidária que queremos para Portugal nem a mim me motiva (isto não é futebol). Regiões e cidades houve e há em Portugal que proclama querer ser as primeiras, a “mais” nisto e naquilo. Melhorar, crescer, desenvolver-se não implica ultrapassagens de ninguém.
Quero para o Porto o melhor do presente e do futuro e isso não passa por ser maior do que quem quer que seja, mas antes pela qualidade de vida dos seus cidadãos, a gestão, com a região e em coordenação com o país, do seu património e qualidades. Quem me dera que o Norte fosse o “menos” em Portugal se os seus habitantes tivessem uma vida cultural e economicamente rica. Parece de somenos isto, mas não é. Todos os que começaram assim, acabaram como Ministros e Secretários de Estado em Lisboa despedidos e enxovalhados pelo centralismo, após traírem sem vergonha os que inicialmente neles acreditaram.

A segunda prende-se com as pontes. Ele promete 3 e um túnel. Em geral penso que qualquer ponte, a ser feita nesta altura, tem de ter um principal critério que é, em que medida concorre para o desenvolvimento económico da cidade e da região. Fazer pontes sob a capa da comodidade que oferece no acesso a zonas de lazer (praias) ou que apenas incentivam o já superpovoado sector da restauração parece-me encobrir (tal como o TGV transmutado em “mercadorias” de Sines ou o novo aeroporto de Lisboa) um incentivo ao sector da construção civil, isto é, a um sector culpado do real atraso do país, quer pelo trabalho indiferenciado/escravizante que promove quer pelo lucro fácil que alimentou transferências “offshores” conhecidas. Para além disso, facilitaria ainda o assalto construtivo às poucas zonas verdes das encostas do Douro intercidades e às zonas das praias já a abarrotar, com óbvio prejuízo das populações visitantes e que ali habitam.
De qualquer forma, uma das travessias a “construir”, o túnel entre Lavadores e a Cantareira/Passeio Alegre, seria absolutamente um crime ecológico e cultural. Estas zonas não necessitam de mais automóveis mas antes de os retirar ao máximo dali. A falsa ideia democrática de dar “acesso a todos” levar-nos-ia a liquidar a própria natureza da procura, ou seja, de retirar às zonas os seus atractivos… os que restam. Tenho para mim como verdade que o habitante pobre de Gaia ou do Porto e que quer ter acesso fácil às praias e ao mar prefere de longe ver essas zonas com o mínimo de carros possível, até porque chega ali de transportes.

Necessitamos de olhar para o que se constrói em termos de qualidade de vida, de elevação cultural e humana das pessoas. O nosso modelo não pode ser a desenfreada construção de equipamentos (esplanadas por exemplo) e acessos próprios às zonas que em poucos anos são abandonadas por habitantes e forasteiros. Uma visão cultural e solidária tem de prevalecer sobre o despeito saloio e o novo-riquismo exibicionista.

Eu prefiro uma Ribeira/Barredo enfim restaurada e de vida digna para os seus habitantes que qualquer ponte mais sobre o nosso Douro.

Com um abraço.
Joaquim Pinto da Silva

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