26 de maio de 2012
Em Bruxelas, as árvores não lêem Pessoa
Uma árvore, das poucas que não morrem de pé, ou estaria já morta?, desabou ontem sobre o poeta Pessoa da Place Flagey em Bruxelas.Benditas quedas que, como na velhice humana, permitem aos afogueados (stressados, diz-se) filhos, parentes e amigos, falar do caído, após anos de desinteresse, de desapego, de ostracismo até. O sentimento emerge, a recordação volta, a chama primeira retorna, e realça a pessoa, o Pessoa, em quem olhares absortos e indiferentes não pousavam, na pressa enganadora do quotidiano ou, pior ainda, na arrogância saloia dos urbanos, dos falso-cultos, dos sobranceiros.Fulminante, uma tempestade célere sapa a decrépita árvore e fá-la tombar sobre as ondas da cabeleira pessoana, sem respeito ao poeta e ao traço da Irene Vilar. Ambos, segundo a bruxa de Monte Córdova, se revolveram nos sepulcros e comentaram entre si que repor é muitas vezes mais difícil que pôr. Alguém diz que ouviu, cadente, a cabeça clamar, plagiando Camões, "Morro com a pátria", não se sabe se se referindo ao locus ou ao logos, ou ... aos dois.
Bruxelas, 25 de Maio de 2012
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