Ser penedo é ser por fora o que se é por dentro (Teixeira de Pascoaes)
... é como ser transparente.

2 de outubro de 2008

SPORÁ, ROMANCE DE PEDRO BAPTISTA

Nota de Leitura

De Pedro Baptista recordo, vagamente, ter lido uns seus poemas, lá pelos anos 60, que não creio terem tido continuidade. Esta é, portanto, a primeira obra de ficção que lhe conheço.
De importância capital, o cenário é Nevogilde e as suas grandezas e misérias: o Molhe, a Avenida (do Brasil e Montevideu), os palacetes, o Bar do Molhe (o Convívio) tudo tal como o autor o viveu na sua infância e adolescência.
As personagens, todas conhecidas: a burguesia comercial e industrial do Norte, muitos filhos-família, os trabalhadores, os pequenos comerciantes, alguns pescadores e jovens de famílias pobres.
A situação é datada com detalhe: fins dos anos 50 e início da década de 60 (a Laika no espaço, o Sputnik, as corridas de Fórmula 1 no Porto, o início das emissões de televisão em Portugal, etc.).
A trama é social: a grande burguesia, enfeudada a uma ditadura caduca, é lânguida e hipócrita, tem interesses — não tem valores. A sua descendência é lassa, materialista e ignorante. Primário nos valores, roído pela pressão da miséria o povo é vingativo ainda que profundamente solidário e humanista entre si. Toda a relação interclassista é de raiva contida a custo.
De inocência nunca sofreu Pedro Baptista. Nem ele autor, nem o narrador do seu livro.
Este — não poderia ser outra coisa! — é afirmado do lado da revolta: incondicional, mesmo quando está desvinculada de finalidade e de princípios. O narrador, Antero e... Pedro Baptista são ideologicamente coincidentes. A linguagem comparticipa: crua, obscena amiúde... real. O título é, pelo menos para nós, hermético. Levitará provavelmente entre a quietude do sopor e a premonição do supor? Será — acusarão ou elogiarão? — de um neo-realismo tardio? Não importa, o resultado final é de prazer na leitura e de reposição de cenários e de sociedades que avivam memórias e espicaçam a razão crítica. Acabámo-lo rápido. Aconselhámo-lo vivamente, amizades... e críticas, à parte!

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