Ser penedo é ser por fora o que se é por dentro (Teixeira de Pascoaes)
... é como ser transparente.

3 de outubro de 2008

«Simplesmente» Camões

O NOSSO CONTRIBUTO PARA AS COMEMORAÇÕES CAMONIANAS


Conferência do Prof. José Augusto Seabra

Polémica e controversa, clarificante e esclarecedora, prospectiva e acessível, tais os atributos da conferência dada pelo Prof. José Augusto Seabra, no dia 9 de Junho último, no salão paroquial da Igreja da Foz, palestra essa integrada nas Comemorações Camonianas.
Porquê Dia de Portugal, de Camões e das Comunidades Portuguesas? Porque não englobar nos festejos de 10 de Junho os novos países de expressão portuguesa e o Brasil? Esta uma das questões levantadas inteligentemente pelo conferencista.
Efectivamente, «a minha pátria é a língua portuguesa», e se a frase não é de Camões e sim de um outro (super?) Camões que foi Fernando Pessoa, é certo que poderia perfeitamente ser da autoria do Poeta. Daí que alargadas as fronteiras, pois das «históricas» passamos às linguísticas, não se percebe muito bem do carácter limitativo com que se cognominou aquele dia, fechando-o chauvinisticamente a outros países e povos que praticam (e por força dessa prática são dela também histórica e justamente seus possuidores) a nossa língua.
Com «Dia de Camões» traduziríamos talvez melhor as intenções proclamadas atendendo à polissemia inerente desde há muito ao nome «Camões» — uma pátria, uma língua, uma maneira de estar no mundo, um universalismo, etc.
«Recuso um Camões «comunista», «social-democrata», «socialista», «republicano» ou outro qualquer aproveitamento que dele se faça». Camões foi o que foi, o que a sua formação, o seu tempo e o que quis ser, uma globalidade ideológica e poética e não este ou aquele trecho, esta ou aquela afirmação, este ou aquele episódio da sua conturbada obra.
J. A. Seabra referiu-se ainda à obra camoniana como contendo referentes históricos (é nas obras que se encontra a História e não o contrário) afirmando que «a poesia precede a história» e procurando na análise ao intrínseco da obra a sua afirmação e remetendo o extrínseco para referencial.
Muitas outras questões foram levantadas algumas mesmo da escassa assistência, que permitiram um diálogo, menos esclarecedor em definitivo que de incentivo à busca e ao conhecimento.

Nota: Oficialmente subordinada ao título «Camões Lírico», a conferência só fugazmente abordou este tema, pois por sugestão nossa e com o acordo do Dr. Seabra entendeu-se dar àquele um carácter mais aberto e mais generalizador na abordagem à obra camoniana.

Concerto pela Orquestra Sinfónica da RDP

Obras de Tchaikovsky (alguns andamentos da IV sinfonia) e de Wagner (Encantamento de Sexta-Feira Santa) preencheram o concerto organizado pelo nosso jornal e por uma Comissão criada para o efeito enquadrado nas comemorações do Dia de Camões, levadas a efeito com o apoio da autarquia local.
Teve lugar este acontecimento na Igreja matriz da Foz, no dia 6 de Junho passado. Pena foi que a assistência não fosse em quantidade a merecida pela qualidade do espectáculo apresentado.
O maestro José Atalaya transformou a sessão numa audição comentada, pedagógica e atractiva, fazendo anotações orais aos trechos musicais apresentados. Por outro lado a Orquestra Sinfónica da RDP demonstrou a valia que lhe é reconhecida e provou, com a sua entrega e gratuitidade de actuação, continuar a ser uma das instituições culturais nortenhas de mais actividade e de maior eficácia.
Repetir iniciativas deste género é um propósito que afiançamos de molde a proporcionar a um cada vez maior número de pessoas a audição de obras musicais de indubitável valor.

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