Ser penedo é ser por fora o que se é por dentro (Teixeira de Pascoaes)
... é como ser transparente.

2 de outubro de 2008

A PRAIA

Despi a camisola. Estirei-me, trauteei o strawberry fields forever, parti enlevado no sonho antigo da marinha, da viagem e da aventura.

Contas feitas, a paixão do regresso, do momento de rever, era a pedra de toque do desejo. Histórias para contar, lembranças a distribuir, o reflexo da alegria dos outros, tudo era cenário dessoutro gozado querer do repisar as praias, os campos, as ruas da origem. Importante, importante seria a volta.

E do azul frio do mar incontinente que transborda as praias, face a mim, só provinha reforço do querer, abismo de atracção. Da penedia, o desconforto forte da rugosidade, alimentava também a teia saborosa da modorra do sonho. Mudos navios a chamarem ao fundo — a mim que enjoo —, veleiros na demanda da barra, caícos ruidosos em espera de pão, inchados de mar, movidos a braços de labor.

23 de Maio de 1996

F. Ligure

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