Fim de século
Devia ser melhor que os precedentes, o nosso XX século.
Ja não terá mais tempo de o provar,
seus anos estão contados,
seu passo cambaleante,
curta sua respiração.
Demasiadas coisas se passaram
e que não deveriam,
e o que deveria ter sucedido,
não sucedeu.
Devia ser a promessa da primavera
e da felicidade, entre outras coisas.
O medo devia deixar as montanhas e os vales,
a verdade, mais depressa que a mentira
devia ter alcançado o objectivo.
Algumas desgraças não deviam
acontecer nunca mais,
como a guerra por exemplo,
e a fome, et caetera.
Devia respeitar-se de verdade
a vulnerabilidade dos vulneráveis
a fé, e assim por diante.
Quem queria deleitar-se neste mundo
encontra-se perante um desafio
impossível de vencer.
A estupidez não tem graça.
A sabedoria não é divertida.
a esperança não é mais aquela jovem
et caetera, helas.
Deus devia enfim acreditar no homem
um homem bom e forte
mas bom e forte
faz sempre dois homens.
Como viver, pergunta-me numa carta
alguém a quem eu queria justamente
questionar sobre o mesmo assunto.
De novo, e como sempre,
depreendendo-se do que precede,
não há questões mais urgentes
que as questões ingénuas.
Wislava Szymborska
Polaca, Prémio Nobel da Literatura.
Traduzido do francês
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